Aulas de Dança Contemporânea - Prof. Marcelo Sena

As aulas ministradas pelo professor Marcelo Sena nessa primeira fase das aulas de dança contemporânea foram uma preparação corporal, sensorial e mental com nós alunos do curso Acupe.

As apresentações entre alunos e professor foram além do nome, da experiência de cada aluno, ou trabalho atual. O corpo de cada aluno parecia estar se apresentando durante essas aulas. Conhecer como funciona, reage e responde nossos músculos, articulações a cada movimento foi uma experiência de descoberta.

Um mapeamento corporal foi realizado entre nós na nossa primeira aula. “Saber onde está pisando”, onde no caso da dança, o nosso terreno é o corpo. Conhecer o nosso e o corpo do outro, identificar músculos, articulações, ossos, pele, veias e tendões. O toque no corpo é importante para que possamos nos conhecer e respeitar até onde podemos chegar. Os limites de cada corpo, que são únicos de cada ser. Esse reconhecimento do próprio corpo fará com que nós nos protejamos de possíveis lesões ou fraturas além de “tomarmos conta”, nos apoderarmos do nosso corpo. Para com isso termos mais consciência corporal.

Nossas aulas sempre começam na posição neutra, que de neutra não tem nada. Deitados no chão com os quadris, coxas, pernas, calcanhares e dedos médios dos pés em paralelo com os braços ao lado do corpo com as palmas das mãos ativadas e viradas para cima. Ou seja, essa posição convencionada como “natural” irá nos acompanhar para sempre, pois foi com ela que iniciamos nossos alongamentos e em seguida aquecimentos corporais.

Trabalhamos sentidos como olhar, toque, confiança, susto além de resistência, apoio, peso, leveza e velocidade nas coreografias. Fica melhor assim? Só fazendo! Praticando! Fizemos intensas aulas de usos dessas qualidades para enriquecer nosso vocabulário de dança. Sempre se lembrando da qualidade do movimento. Qual a tonicidade, textura, dimensão, profundidade ideal? “Todos os movimentos devem ser bem executados!” Nos lembrava Marcelo a cada instante.

O que é dança? E dança contemporânea, éééé? Discussões sobre textos, questionamentos sobre a dança e afins fizeram parte de nossas dinâmicas o que proporcionou-nos um momento para expor nossas dúvidas e opiniões. Como aulas de Marcelo estão acontecendo em paralelo ao processo de criação do espetáculo para a conclusão do nosso curso Acupe, nós fizemos um pacto para definição sobre o que estamos criando. Dança contemporânea nesse nosso processo de criação é uma composição que será feita a partir uma pesquisa sobre determinados temas e assuntos de cada bailarino. Foi dada a largada para criação, demonstração e exposição de processos criativos de coreografia onde cada aluno individualmente ou em grupo irá criar sua movimentação artística com as ferramentas aprendidas nas aulas práticas e teóricas do professor Marcelo Sena. E, lembrem-se “Processo de criação exige verdade, isto será uma confição!”. Bem que Marcelo nos avisou...

Olhar o outro, ver, ouvir, sentir, se deixar envolver e “entrar na onda” do colega artista criador. Estamos aprendendo a entender e respeitar o processo criativo de cada um. Nada de julgamentos prévios. A criação não permite julgamentos antes de ser finalmente apresentada. Diferentes processos, fontes e referências são apresentadas durante as aulas. A pesquisa conta com tema, história e musculatura. Após definidas fontes e referências usadas fomos para a prática. A pesquisa deve ir para a dança e a dança deve acontecer no corpo. O professor objetivava ver a movimentação. Mesmo prévia, inicial, embrionária. Ele queria ver, igualzinho à São Tomé.

Experimentamos uma aula que fundia o corpo e a música no corpo. Ritmo, compasso, melodia, harmonia, duração e timbre no corpo. Fomos transportados para um teclado gigante criado com revistas e livros e nos transformamos em música! Cada movimentação regida pelo nosso maestro era uma nota musical. A voz, recurso pouco utilizado em dança, também foi testada nesse processo. E não é que deu samba! Criamos em conjunto uma orquestra corpo-musical em menos de uma hora.

Fomos apresentados à pesquisa “Pele e ossos” do grupo de dança “Cia Etc.” do qual o professor Marcelo faz parte. Pesquisa essa que foi ao palco com o espetáculo “Corpo-massa: pele e ossos”. Metodologias, treinamentos e estruturas de um processo coreográfico são escolhas do grupo. Mostrou-nos que a estrutura de uma aula passa pela “Educação Somática”, ou seja, a reativação de mecanismos corporais de auto-regulação a fim de recuperar o bem estar, e escolha de uma “Técnica específica” que pode ser para o espetáculo ou para sempre, um hábito do grupo. A partir daí a pesquisa inicial irá apontar como o corpo precisa funcionar. Entende-se o que é possível ou não realizar. Análise das possibilidades ideais e reais. O que é necessário para um bom treinamento? Pensamento, estado físico, estado mental, corporal? Esses questionamentos serão respondidos com o avanço da pesquisa.

Asas nas omoplatas, cauda nos glúteos, cobra saindo do umbigo, flores saindo dos olhos e do meio do tórax esse foi o exercício para começar a explorar nossa criação. Como se movimenta um ser desses? Essa pergunta foi respondida dançando. Imaginem... dançando! Claro!

Iniciar a aula já previamente alongada num lago tranqüilo, suave, sem grandes intempéries e depois passar para o mar com ondas agitadas, revoltas com constância e velocidades diferentes já dava pra perceber que a aula não seria das mais calmas e relaxantes. Logo após flutuar e ouvir o barulho do mar a água escorreu e ficamos nós seres em transformação sentindo um leve incômodo e coceira nas omoplatas. O que será? “Imaginem!” Pedia o professor Marcelo. Estavam nascendo asas em nossas costas!

Aula de criação de movimentos, catarse criativa, descarga de sentidos e emoções, ou liquidificador corporal foi importante visto que ao som de uma música aleatória (zen, frevo, dancing...) o professor nos pediu que criássemos passos, evoluções e movimentações aproveitando todo o repertório descoberto na aula de hoje com relação ao nosso trabalho final.

Essa libertação das emoções, sentimentos e idéias que temos e que ficam lá no nosso inconsciente puderam ser exploradas nessa aula. Pois, envolvidos ao som de diferentes músicas, movimentos inimagináveis, como o vôo de um pássaro com cauda, cobra saindo do umbigo e flores nos olhos e coração nós pudemos criar movimentos únicos. “Ludicidade” pura aliada à propriedade dos movimentos. Movimentos nossos, com nossas referências, idéias, sentimentos num improviso coletivo onde não há certo nem errado. Há criação. Criação de arte. Criação, recriação, reconstrução, desconstrução. Um produto final? Ainda não sabemos. Podemos usá-los na nossa coreografia? Vamos pensar. Foi bom? Pra mim, revelador.

Fantásticas, instigantes, relaxantes, inovadoras são adjetivos que posso atribuir às aulas do professor Marcelo Sena em nosso inicial conhecimento de suas aulas de dança contemporânea.

Em sumo! Beber esse sumo de tão raras e fantásticas frutas me fez confessar sentimentos, sensações e emoções em movimentações nunca antes vista. Saúde!!!!!!!!!!!!

Ana Teresa Barros